CAPITÃO
DILERMANDO DE ASSIS
1.Tragédia
da Piedade
O Canal Viva, pertencente à Organização
Globo, vem nesse últimos meses reapresentando
a série que alcançou grande sucesso
denominada “Desejo”. A série
aborda com muitos detalhes a trágica história
amorosa envolvendo o então cadete Dilermando
de Assis e Ana Emília, esposa do escritor
Euclides da Cunha, culminando com a morte do famoso
escritor brasileiro e com ferimento à bala
do amante após terem trocados tiros na casa
de Dilermando, que morava no bairro Piedade.
O
fato teve uma grande repercussão nacional
e marcou a sociedade carioca no início do
século passado com o romance vivido pelo
cadete do Exército Brasileiro Dilermando
de Assis, na época com 17 anos e Ana Emília
Ribeiro a “Saninha”, filha do General
Solon Ribeiro, então com 30 anos. Euclides
da Cunha passou longo tempo no Nordeste a serviço
do Governo acompanhando a Guerra de Canudos e posteriormente
escrevendo o livro “Os Sertões.
Os
jornais da época do Rio deram ampla cobertura
a denominada “tragédia da Piedade”,
ocorrida em 15 de agosto de 1909, explorando o triste
episódio com muito estardalhaço e
parcialidade em favor do escritor. Convém
lembrar que tanto Dilermando quanto o seu irmão
que morava junto com ele saíram gravemente
feridos, com Dilermando sendo atingido na virilha
e no peito e Dinorah nas costas, o que o deixou
paraplégico pelo ferimento recebido e encerrou
a sua carreira de aluno da Escola Naval e a promissora
carreira de jogador de futebol pelo Botafogo.
Posteriormente,
o filho de Euclides, Euclides da Cunha Filho, apelidado
familiarmente de “Quidinho”, em 4 de
julho de 1916, tentando vingar a morte do pai e
extremamente desgostoso com o casamento da mãe
com o homem que havia matado seu pai, atingiu com
dois tiros Dilermando pelas costas em um cartório
no fórum do Centro do Rio de Janeiro, sendo
morto logo em seguida por Dilermando, deixando um
rastro de sangue na biografia do jovem militar.
Novo
escândalo na sociedade carioca e novo julgamento,
sendo Dilermando levado novamente ao banco de réus.
Mais uma vez e graças à atuação
do renomado advogado de defesa Evaristo de Moraes,
acabou sendo absolvido pelo juri popular por ter
revidado as duas tentativas e ter disparado em legítima
defesa.
2.
Breve Biografia de Dilermando de Assis
Dilermando Cândido de Assis nasceu em Porto
Alegre em 18 de janeiro de 1888 e aos 17 anos ingressou
na Escola Militar no Rio de Janeiro vindo a morar
na própria escola. O romance com Ana teve
início em 1905, quando ela havia lhe indicado
um quarto para morar, na Pensão Monat situada
à rua Senador Vergueiro. Nesta pensão
eles costumavam se encontrar durante as longas ausências
de Euclides, sempre viajando a serviço do
Governo Federal.
Em 1908 concluiu o curso na Escola Militar de Porto
Alegre, atingindo o posto de tenente, retornando
em seguida para o Rio onde passou a morar com o
irmão Dinorah, que cursava a Escola Naval
e jogava no Botafogo, em uma casa na Estrada Real
de Santa Cruz 214 (depois avenida suburbana, atual
avenida Dom Hélder Câmara), no bairro
da Piedade.
Dilermando era então descrito como um homem
atlético, esportista, belo, alto e loiro.
O relacionamento entre os dois estabeleceu-se de
uma forma apaixonada e inconsequente e, mesmo continuando
casada com Euclides, tiveram dois filhos, registrados
por Euclides.
Após o jugamento da morte de Euclides e a
absolvição de Dilermando, os dois
contraíram matrimônio em 12 de maio
de 1911 e alugaram uma casa na Rua Humaitá.
Casando-se com Ana, tem com ela quatro filhos. O
relacionamento, porém, iria durar apenas
catorze anos. Em 1926, quando ela contava com 50
anos, e com cinco filhos, ocorreu a separação.
Na sua carreira profissional, Dilermando foi um
engenheiro militar, escreveu livros e foi um maçom
conceituado. Viveu em muitas cidades pelo país,
servindo ao Exército, sendo promovido sucessivamente
até o posto de General.
Em novembro de 1951 Dilermando morreu aos 63 anos
de idade de ataque cardíaco no Rio de Janeiro.
Nesse mesmo ano morreu também, no mês
de maio, de câncer, sua ex-mulher, Ana.
Seu irmão, que era atleta e jogador do Botafogo
de Futebol e Regatas com o tiro recebido por Euclides
fica com hemiplegia e, não suportando a condição,
suicidou-se em 1921.
3. O Campeão Brasileiro de Tiro
O que muitos desconhecem da vida atribulada de Dilermando
de Assis foi que ele teve uma participação
muito expressiva no Tiro Esportivo, tornando-se
Campeão do Exército e Campeão
Brasileiro na modalidade de fuzil de guerra. Foi
ainda representante do Tiro Nacional em 1922 nos
Jogos Latino-Americanos, sagrando-se campeão
na prova de fuzil, superando os experientes atiradores
argentinos e chilenos.
Muito embora haja poucos dados sobre os atiradores
da época foi possível resgatar importantes
resultados dos nossos atletas, obtidos nos preciosos
álbuns do medalhista olímpico e fundador
do Tiro Brasileiro Dr. Afrânio Costa. Valendo-se
desses documentos, esses foram os principais resultados
de provas do atirador Dilermando Cândido de
Assis, entre os anos de 1922 a 1928:
a. Em 16 de setembro de 1922, nos Jogos Latino-Americanos
realizados no Rio de Janeiro em comemoração
ao Centenário da Independência do Brasil,
Dilermando venceu a prova de fuzil de guerra. Naqueles
Jogos, o Brasil teve também como campeões
os heróis de Antuérpia: Tenente Guilherme
Paraense e Dr Afrânio Costa, vencedores das
provas de revólver e pistola livre.
A Cerimônia de Abertura foi realizada no estádio
do Fluminense e contou com a
presença do Presidente da República
– Dr. Artur Bernardes e do Presidente do
Fluminense Dr Arnaldo Guinle;
b. Em 06 de outubro de 1923, no I Campeonato Carioca
organizado pela Associação Atlética
Metropolitana de Esportes Terrestres, Dilermando
competindo pelo São Cristóvão
Futebol e Regatas (SCFR), venceu a prova de fuzil
de guerra. O Campeonato foi vencido pela equipe
do Fluminense Futebol Clube;
c. No Campeonato Brasileiro promovido pela Federação
Brasileira de Tiro em 26 de outubro de 1923, com
o apoio da Diretoria Geral do Tiro de Guerra (DGTG),
conquistou o primeiro lugar com 158 pontos na prova
de fuzil deitado, 300 metros, superando Antônio
Francisco da Silva com 157 pontos e o Tenente Antônio
Ferraz da Silveira com 154 pontos;
d. Em 05 de dezembro de 1927, no Campeonato Brasileiro
de 1927, realizado na Vila Militar, Dilermando competindo
pelo Paraná, obteve o 3º Lugar na prova
de fuzil de guerra com 407 pontos, na prova vencida
por Harvey Villela, que estabeleceu um novo recorde
brasileiro com 435 pontos.
e. Na prova de fuzil livre 300m, vencida por Villela
com 436 pontos, Dilermando ficou novamente na 3ª
classificação com 411 pontos;
f. Em março de 1928, durante o Campeonato
Interestadual realizado no estande do Cajuru, em
Curitiba, Dilermando foi o vencedor das prova de
fuzil de guerra com 401 pontos, seguido do Capitão
Carlos Amorety Osório e Eugenio Caetano do
Amaral, pai do campeão brasileiro Leonel
do Amaral. A equipe paranaense venceu o campeonato.