Eduardo Ferreira
(ferreiraedu@terra.com.br)


1922- JOGOS OLÍMPICOS LATINO-AMERICANOS

1. PREPARATIVOS PARA AS COMEMORAÇÕES

Transcorria o ano de 1921, o Governo Federal e as autoridades políticas e esportivas brasileiras trabalhavam com afinco para organizar as festividades do Centenário da Independência do Brasil na capital Rio de Janeiro e nos demais Estados. As dificuldades eram muitas. A situação econômica do País não era favorável a um evento de tal envergadura e a política interna brasileira vivia um período de crise com disputas entre os partidos e inúmeros levantes militares eclodindo em várias partes do Brasil.

No entanto, seria uma excelente oportunidade para festejar a data da Independência com atividades culturais, cívicas e esportivas para projetar o País internacionalmente. Além do mais, o país vizinho do sul – Argentina - acabara de organizar as suas festividades com muita pompa em 1910, festejando o centenário de sua independência e o Brasil não poderia deixar também de realizar as suas comemorações. A célebre rivalidade política entre os dois países persistia e continuava latente.

A abertura da Avenida Central, que mais tarde passou a se chamar Avenida Rio Branco, obra do prefeito Francisco Pereira Passos, deu ao centro da cidade um novo visual com aspectos de modernidade, proporcionando ao Rio condições favoráveis para receber futuros eventos. Faltava, ainda, o desmonte do Morro do Castelo, berço histórico da cidade do Rio de Janeiro, pois seria necessário abrir novos espaços ventilados para abrigar as instalações onde seriam realizadas exposições internacionais de arte e cultura. E assim após o desmonte, obra concluída pelo Prefeito Carlos Sampaio, foram erguidos 15 pavilhões estrangeiros para a “Exposição Universal”. Na área nacional havia os palácios de festas, dos estados, da música, das diversões, da caça e pesca e muitos outros. Alguns desses prédios ainda podem ser apreciados nos dias atuais.

2. COMEMORAÇÕES DO CENTENÁRIO

No dia sete de Setembro de 1922 ocorreu um grande desfile militar marcando o início da Semana do Centenário da Independência. O evento foi presidido pelo Presidente da República Epitácio Pessoa e contou com inúmeras autoridades civis e militares estrangeiras. Um grande público se fez presente à solenidade cívico-militar. Ao meio-dia, em todas as escolas primárias do país houve uma cerimônia em homenagem à Bandeira Nacional. Na parte da tarde, uma expressiva multidão se acotovelou à espera da inauguração da Exposição do Centenário, que finalmente ocorreu às 16 horas.

A “Exposição Universal” ultrapassava as expectativas dos padrões brasileiros. O visitante percorria 2.500 metros entre pavilhões descritos pela imprensa como "deslumbrantes monumentos arquitetônicos". A entrada principal ficava na Avenida Rio Branco. Foi construída uma "porta monumental" de 33 metros de altura. Na Avenida das Nações se alinhavam os palácios e representações estrangeiras. Mais adiante, avistava-se a praça na qual se erigiam os palácios brasileiros, considerados "monumentos majestosos de nossa riqueza e de nossa capacidade de trabalho". Tudo era festa e o povo aproveitou como ninguém aquele que seria o grande evento brasileiro do início do século XX.

A Exposição Universal durou até abril de 1923, e o número de expositores chegou a dez mil. Em setembro de 1923, o presidente Artur Bernardes encerrou as comemorações do Centenário da Independência com uma nova parada militar na capital federal.

3. AS COMPETIÇÕES

Havia um grande entrave para o sucesso do evento. Faltavam os recursos necessários para o Governo de Epitácio Pessoa organizar as competições esportivas, uma vez que o grande foco do governo foi a destinação dos recursos para a construção de prédios e pavilhões para as exposições internacionais de arte.

Em 1922 o Brasil realizou os Jogos Latino-Americanos como parte das festividades do Centenário da Independência e graças à iniciativa da Diretoria do Fluminense Football Club foram realizadas várias competições olímpicas em sua sede, proporcionando ainda todo apoio financeiro e logístico às provas. Em virtude da falta de recursos o Governo não apoiou o evento desportivo ficando o Clube tricolor com o pesado encargo de bancar os Jogos, arcando com todas as despesas inerentes .

Naquela oportunidade, o Fluminense ampliou o seu Estádio das Laranjeiras, projetando-o para 25.000 espectadores para receber o Campeonato Sul-Americano de Seleções de Futebol Nacionais naquele mesmo ano, também sem ajuda financeira do governo brasileiro. Esse campeonato representou a primeira conquista significativa da Seleção Brasileira de Futebol, superando as equipes da Argentina, Uruguai, Chile e México. No desfile inicial das equipe participaram destacamentos militares das marinhas dos Estados Unidos, Inglaterra e do Japão, proporcionando um espetáculo grandioso empolgando o público presente que lotou o estádio.

O Programa Desportivo dos Jogos contou com várias modalidades olímpicas: atletismo, vencido pela Argentina; Pólo Aquática, Basquetebol, Tênis e Tiro vencido pelo Brasil; Natação, Esgrima e Boxe. A Abertura dos Jogos foi no Estádio do Fluminense no dia 13 de setembro de 1922. Foi uma grande parada esportiva com os atletas desfilando com uniformes e bandeiras de seus países.

4. PROVAS DE TIRO

As provas de tiro de armas curtas foram realizadas em 16 de setembro de 1922, no histórico estande de tiro do Fluminense, construído em 1919, pelo Presidente Arnaldo Guinle e pelo seu diretor Dr Afrânio Costa. O Brasil venceu as duas provas de arma curta, derrotando os argentinos, chilenos, uruguaios e paraguaios . A prova de fuzil de guerra foi realizada no Estande da Vila Militar, próximo ao local onde estavam alojados os atiradores de outro países, distribuídos pelas Unidades Militares da Vila Militar. A Argentina venceu a prova de fuzil de guerra. Os resultados foram os seguintes:

1. 25 M - Revólver de Guerra – 60 tiros

1) 1º Tenente Guilherme Paraense: SCFR – 508 pontos

2) 1º Tenente Antônio Ferraz da Silveira: FFC – 490 pontos

3) Cunning: ARG – 490 pontos

4) Sebastião Wolf: Tiro 4 – 448 pontos

2. 50M - Pistola Livre – 60 tiros

1) Sebastião Wolf: Tiro 4 – 483 pontos

2) Afranio Costa: FFC – 481 pontos

3) Cunning: ARG – 472 pontos

3. 300M - Fuzil Militar - 3 Posições - 60 tiros

1) Capitão Dilermando Cândido de Assis

OBS: Foram sete medalhas conquistadas (4 de ouro e 3 de prata)

5) CONCLUSÕES

A comemoração do Centenário da Independência foi o momento político ideal para o governo do presidente Epitácio Pessoa recuperar seu abalado prestígio naquele difícil ano de 1922. O governo federal procurou e conseguiu tirar proveito das comemorações. Mas a chama da crise política iria permanecer acesa por toda a década de 1920.

Os Jogos Latino-Americanos foram o primeiro grande evento desportivo do Tiro Brasileiro realizado com sucesso por intermédio do incansável Dr. Afrânio Costa, ícone do Tiro Desportivo Nacional e que contou com o apoio do Dr. Arnaldo Guinle – Presidente do Fluminense Football Club, clube que sempre foi uma referência histórica do esporte.

Os grandes resultados dos atiradores brasileiros naquela competição confirmam o bom momento que os nossos atletas viviam. Foi uma pena que os nossos atletas não pudessem competir nos Jogos Olímpicos da França em 1924 por questões orçamentárias e política.

 


por Eduardo Ferreira
Recordista e campeão brasileiro de armas longas da CBTE e das Forças Armadas. Ex vice-presidente da CBTE e da federação do DF, ex presidente das federações do RJ e CE, e diretor das federações da PB e RS. Autor de "Arma Longa" e "História do Tiro"
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