1922- JOGOS OLÍMPICOS LATINO-AMERICANOS
1. PREPARATIVOS
PARA AS COMEMORAÇÕES
Transcorria o ano
de 1921, o Governo Federal e as autoridades políticas
e esportivas brasileiras trabalhavam com afinco
para organizar as festividades do Centenário
da Independência do Brasil na capital Rio
de Janeiro e nos demais Estados. As dificuldades
eram muitas. A situação econômica
do País não era favorável a
um evento de tal envergadura e a política
interna brasileira vivia um período de crise
com disputas entre os partidos e inúmeros
levantes militares eclodindo em várias partes
do Brasil.
No entanto, seria
uma excelente oportunidade para festejar a data
da Independência com atividades culturais,
cívicas e esportivas para projetar o País
internacionalmente. Além do mais, o país
vizinho do sul – Argentina - acabara de organizar
as suas festividades com muita pompa em 1910, festejando
o centenário de sua independência e
o Brasil não poderia deixar também
de realizar as suas comemorações.
A célebre rivalidade política entre
os dois países persistia e continuava latente.
A abertura da Avenida
Central, que mais tarde passou a se chamar Avenida
Rio Branco, obra do prefeito Francisco Pereira Passos,
deu ao centro da cidade um novo visual com aspectos
de modernidade, proporcionando ao Rio condições
favoráveis para receber futuros eventos.
Faltava, ainda, o desmonte do Morro do Castelo,
berço histórico da cidade do Rio de
Janeiro, pois seria necessário abrir novos
espaços ventilados para abrigar as instalações
onde seriam realizadas exposições
internacionais de arte e cultura. E assim após
o desmonte, obra concluída pelo Prefeito
Carlos Sampaio, foram erguidos 15 pavilhões
estrangeiros para a “Exposição
Universal”. Na área nacional havia
os palácios de festas, dos estados, da música,
das diversões, da caça e pesca e muitos
outros. Alguns desses prédios ainda podem
ser apreciados nos dias atuais.
2. COMEMORAÇÕES
DO CENTENÁRIO
No dia sete de Setembro
de 1922 ocorreu um grande desfile militar marcando
o início da Semana do Centenário da
Independência. O evento foi presidido pelo
Presidente da República Epitácio Pessoa
e contou com inúmeras autoridades civis e
militares estrangeiras. Um grande público
se fez presente à solenidade cívico-militar.
Ao meio-dia, em todas as escolas primárias
do país houve uma cerimônia em homenagem
à Bandeira Nacional. Na parte da tarde, uma
expressiva multidão se acotovelou à
espera da inauguração da Exposição
do Centenário, que finalmente ocorreu às
16 horas.
A “Exposição
Universal” ultrapassava as expectativas dos
padrões brasileiros. O visitante percorria
2.500 metros entre pavilhões descritos pela
imprensa como "deslumbrantes monumentos arquitetônicos".
A entrada principal ficava na Avenida Rio Branco.
Foi construída uma "porta monumental"
de 33 metros de altura. Na Avenida das Nações
se alinhavam os palácios e representações
estrangeiras. Mais adiante, avistava-se a praça
na qual se erigiam os palácios brasileiros,
considerados "monumentos majestosos de nossa
riqueza e de nossa capacidade de trabalho".
Tudo era festa e o povo aproveitou como ninguém
aquele que seria o grande evento brasileiro do início
do século XX.
A Exposição
Universal durou até abril de 1923, e o número
de expositores chegou a dez mil. Em setembro de
1923, o presidente Artur Bernardes encerrou as comemorações
do Centenário da Independência com
uma nova parada militar na capital federal.
3. AS COMPETIÇÕES
Havia um grande
entrave para o sucesso do evento. Faltavam os recursos
necessários para o Governo de Epitácio
Pessoa organizar as competições esportivas,
uma vez que o grande foco do governo foi a destinação
dos recursos para a construção de
prédios e pavilhões para as exposições
internacionais de arte.
Em 1922 o Brasil
realizou os Jogos Latino-Americanos como parte das
festividades do Centenário da Independência
e graças à iniciativa da Diretoria
do Fluminense Football Club foram realizadas várias
competições olímpicas em sua
sede, proporcionando ainda todo apoio financeiro
e logístico às provas. Em virtude
da falta de recursos o Governo não apoiou
o evento desportivo ficando o Clube tricolor com
o pesado encargo de bancar os Jogos, arcando com
todas as despesas inerentes .
Naquela oportunidade,
o Fluminense ampliou o seu Estádio das Laranjeiras,
projetando-o para 25.000 espectadores para receber
o Campeonato Sul-Americano de Seleções
de Futebol Nacionais naquele mesmo ano, também
sem ajuda financeira do governo brasileiro. Esse
campeonato representou a primeira conquista significativa
da Seleção Brasileira de Futebol,
superando as equipes da Argentina, Uruguai, Chile
e México. No desfile inicial das equipe participaram
destacamentos militares das marinhas dos Estados
Unidos, Inglaterra e do Japão, proporcionando
um espetáculo grandioso empolgando o público
presente que lotou o estádio.
O Programa Desportivo
dos Jogos contou com várias modalidades olímpicas:
atletismo, vencido pela Argentina; Pólo Aquática,
Basquetebol, Tênis e Tiro vencido pelo Brasil;
Natação, Esgrima e Boxe. A Abertura
dos Jogos foi no Estádio do Fluminense no
dia 13 de setembro de 1922. Foi uma grande parada
esportiva com os atletas desfilando com uniformes
e bandeiras de seus países.
4. PROVAS
DE TIRO
As provas de tiro
de armas curtas foram realizadas em 16 de setembro
de 1922, no histórico estande de tiro do
Fluminense, construído em 1919, pelo Presidente
Arnaldo Guinle e pelo seu diretor Dr Afrânio
Costa. O Brasil venceu as duas provas de arma curta,
derrotando os argentinos, chilenos, uruguaios e
paraguaios . A prova de fuzil de guerra foi realizada
no Estande da Vila Militar, próximo ao local
onde estavam alojados os atiradores de outro países,
distribuídos pelas Unidades Militares da
Vila Militar. A Argentina venceu a prova de fuzil
de guerra. Os resultados foram os seguintes:
1. 25 M - Revólver
de Guerra – 60 tiros
1) 1º Tenente
Guilherme Paraense: SCFR – 508 pontos
2) 1º Tenente
Antônio Ferraz da Silveira: FFC – 490
pontos
3) Cunning: ARG
– 490 pontos
4) Sebastião
Wolf: Tiro 4 – 448 pontos
2. 50M - Pistola
Livre – 60 tiros
1) Sebastião
Wolf: Tiro 4 – 483 pontos
2) Afranio Costa:
FFC – 481 pontos
3) Cunning: ARG
– 472 pontos
3. 300M - Fuzil
Militar - 3 Posições - 60 tiros
1) Capitão
Dilermando Cândido de Assis
OBS: Foram sete
medalhas conquistadas (4 de ouro e 3 de prata)
5) CONCLUSÕES
A comemoração
do Centenário da Independência foi
o momento político ideal para o governo do
presidente Epitácio Pessoa recuperar seu
abalado prestígio naquele difícil
ano de 1922. O governo federal procurou e conseguiu
tirar proveito das comemorações. Mas
a chama da crise política iria permanecer
acesa por toda a década de 1920.
Os Jogos Latino-Americanos
foram o primeiro grande evento desportivo do Tiro
Brasileiro realizado com sucesso por intermédio
do incansável Dr. Afrânio Costa, ícone
do Tiro Desportivo Nacional e que contou com o apoio
do Dr. Arnaldo Guinle – Presidente do Fluminense
Football Club, clube que sempre foi uma referência
histórica do esporte.
Os grandes resultados
dos atiradores brasileiros naquela competição
confirmam o bom momento que os nossos atletas viviam.
Foi uma pena que os nossos atletas não pudessem
competir nos Jogos Olímpicos da França
em 1924 por questões orçamentárias
e política.
por Eduardo Ferreira
Recordista e campeão brasileiro de armas
longas da CBTE e das Forças Armadas. Ex vice-presidente
da CBTE e da federação do DF, ex presidente
das federações do RJ e CE, e diretor
das federações da PB e RS. Autor de
"Arma Longa" e "História do
Tiro"
ferreiraedu@terra.com.br