Eduardo Ferreira
(ferreiraedu@terra.com.br)


CURSO DE TIRO DE AR COMPRIMIDO

Karl Schlömer

Generalidades
Este curso de pistola de ar foi ministrado pelo técnico alemão Karl Schlömer em 13 de setembro de 1982 no Fluminense Football Club.
Schlömer foi um excelente e competente técnico alemão contratado na década de 1980 pela Confederação Brasileira de Tiro Esportivo. Seus ensinamentos ainda hoje são válidos em que pese passados os 31 anos do curso ministrado. 16 alunos assistiram o curso e todos foram unânimes em confirmar a excelência do curso e do instrutor.
Durante anos Schlömer foi o técnico da seleção brasileira e vários atiradores passaram por seus ensinamentos técnicos. Foi um momento marcante para a evolução do Tiro Brasileiro com resultados altamente significativos.

Como foi a apresentação do curso:
1. Explicação do Funcionamento do Curso de Tiro desenvolvido na Alemanha
Existe na Alemanha uma Escola de Tiro composta de vários técnicos que ministram cursos em 14 Centros e realizam a seguinte programação:
a. Reunião na sexta-feira, após o jantar, para trava conhecimento entre o técnico e os atiradores;
b. No sábado pela manhã, uma sessão de ginástica e de corrida, que varia por faixa etária. Após a corrida, reunião com todos atiradores no estande.
c. Divisão dos atiradores pelo ranking de carabina e pistola de ar;
1) 1ª classe: 300 pontos (juniores de 12 a 15 anos)
2) 2ª classe: 320 pontos (juniores maiores de 15 anos)
3) 3ª classe: média 9 (360 a 540 pontos)
4) 4ª classe: média 9.5 (380 a 570 pontos)
d. Após a divisão todos os atiradores disparam de 15 a 20 tiros sobre um alvo em branco.
e. Os alvos são identificados e colocados presos em um quadro negro.
f. Alvos são grupados conforme os tipos de grupamentos de tiro.
g. O instrutor realiza explicações sobre o tipo de grupamento, assinalando as causas dos erros de cada atirador.
h. Os atiradores que fizeram os melhores grupamentos são chamados e explicam como procederam durante suas séries.
i. Através do método direto e utilizando-se dos melhores atiradores, consegue-se um maior rendimento da sessão. Os demais atiradores acreditam mais no rendimento dos melhores atiradores do que na própria explicação do técnico (fator psicológico)
j. Os atiradores retornam aos seus postos e procuram realizar uma cruz com seus tiros no alvo, disparando 50 tiros. A idéia é observar se os mesmos conseguem fazer grupamentos em altura (vertical) e em direção (horizontal) , dominando completamente a sua arma.
k. O atirador que consegue a figura mais perfeita (uma cruz) é chamado para contar aos demais participantes como procedeu.
l. O técnico interfere explicando as causas dos erros e acertos.
m. Todos disparam novamente 20 tiros para fixar a posição corrigida, atentando para os elementos de tiro ensinados.
n. O técnico apresenta uma Escala de Tiro e pergunta individualmente aos atiradores qual a que preferem experimentar. Obviamente que os atiradores irão escolher uma escala um pouco abaixo de suas possibilidades. Este fator não tem muita importância, pois o que importa é o método de aprendizagem.
o. Escala dos índices:
1) Com 3 tiros tenho que fazer 25 pontos
2) Com 5 tiros tenho que fazer 40 pontos
3) Com 2 tiros tenho que fazer 18 pontos
4) Com 10 tiros (série) tenho que fazer 85 pontos
p. Cada atirador escolhe os seus índices pratique a sua Escala, disparando 20 tiros na seqüência acima.
q. O instrutor seleciona os 3 melhores alvos (sem identificação) e faz uma análise dos alvo

2. Aspecto Psicológico
Uma curva senoidal simboliza o ciclo vivido pelo atirador durante uma prova. A tensão cresce quando a curva ascende e quando a curva decresce está o relaxamento. Ambas têm que ser simétricas e para tanto o atirador deve ter mecanismos psicológicos de relaxamento para vencer a tensão decorrente da prova.
A Força (relaxamento) deve ser igual a Reação (tensão). É necessário aprender a graduar o relaxamento, por4 intermédio da concentração.
Deve-se procurar atirar de uma forma automática sem o comandar o tiro, assim diante de um estímulo o atirador terá dois tipos de reação: consciente e inconsciente.

A melhor maneira de evoluir no Tiro é galgar degrau por degrau, ou seja aprender muito bem cada elemento do Tiro antes de passar para outro. No momento do disparo o atirador Não deve estar pensando em cada elemento do tiro, a sua concentração deve estar dirigida para a prova.
OBS: o técnico alemão considera os elementos de tiro os fundamentos de tiro.

3. POSIÇÕES DE TIRO
a. Carabina
1) Foi muito enfatizando a tomada de posição do carabineiro com os olhos fechados, corrigindo-se gradativamente desde a posição dos pés até aposição dos braços.
2) O atirador deverá ter o seu ponto de pontaria coincidente com a visada para o alvo, após várias tentativas, até que obtenha a posição perfeita e natural. Se ele sair da posição durante a prova, retomar o processo.
3) Foi também muito realçada a posição dos pés, particularmente, o ângulo que os pés fazem com o alvo.
4) A cabeça deve estar ereta, sem nenhuma inclinação lateral.
5) Inclinação para trás e trancamento do tronco.
6) Foi mostrada a posição do cotovelo esquerdo embaixo da arma.
7) Não é aconselhável apoiar a arma sobre os dedos, porque provoca a instabilidade da posição. Recomenda-se apoiar a carabina na parte chata dos dedos com a mão fechada.
8) Recomenda-se puxar a arma para dentro do sovaco, com a mão direita,
9) O cotovelo esquerdo deve ser apoiado sobre o quadril (descansando o peso da arma) e não sobre as costelas.

b. Pistola
1) Inicialmente foi apresentada uma posição de tiro, onde o atirador se encontra fazendo um ângulo de 90º com o alvo. Teoricamente esta é a melhor posição porque o recuo da arma é mais bem absorvido diretamente pelo braço estendido.
2) Por tentativa, e com os olhos fechados, o atirador vai procurando a melhor posição de maneira que o ponto de pontaria coincida com o alvo, movendo levemente os dois pés (base) e mantendo todo o conjunto imóvel.
3) A posição de lado (90º) é superior a posição frontal, principalmente no tiro rápido, pela facilidade de levantar o braço e manter a mesma altura em todos os tiros.
4) Recomenda-se tomar a posição próxima a uma parede, para que o técnico verifique o movimento do corpo.
5) Há também uma necessidade do “trancamento” do corpo para diminuir o movimento lateral.
6) Foi ensinado um exercício para fortalecer os músculos do antebraço, enrolando e desenrolando uma corda presa a um peso (1 a 2Kg) pendurado em um cabo de vassoura de 25cm de comprimento.
4. Preparo do cabo anatômico
1) É extremamente importante que o cabo anatômico se adapte à mão do atirador, de maneira que:
2) O cano deve estar alinhado com o antebraço do atirador.
3) O dedo deve alcançar naturalmente a tecla do gatilho, de forma a acionar o gatilho o mais normal possível (90º).
4) A arma deve estar bem ajustada na mão do atirador.
5) Foi muito enfatizado o procedimento de levar o braço na direção e acima do alvo:
a) Na precisão o braço deve fazer a pontaria de cima para baixo.
b) A respiração (expiração) auxilia este movimento.

 

c) A respiração não deve ficar muito tempo presa, pois afetará a oxigenação do cérebro e conseqüentemente prejudicará a visão (pontaria), concentração e o “folow trough”. O tempo máximo deve ser de 10 segundos, sendo que o tempo ideal destinado ao tiro, com a respiração presa (acionamento) é de 5 segundos.
d) Quando vier abaixando a arma de cima para baixo, o atirador deverá estar com um bom contato com o gatilho (1/3 da pressão).
e) Durante a descida deve fazer o alinhamento das miras.
f) Ao atingir o centro do alvo aumenta um pouco a pressão do gatilho, caso haja um disparo acidental, na pior da hipótese será um tiro de valor 7 alto.
g) Ao chegar na base do visual, aumentar a pressão restante realizando o disparo.
h) Será necessário um bom condicionamento físico para obter uma ótima posição de tiro. Quanto melhor for o condicionamento físico do atirador, maior será a possibilidade dele manter a arma imóvel apontada para o centro do 10.


 

2) Normalmente o medo aparece quando termina os tiros de ensaio.
3) Caso o medo seja combatido, o atirador poderá aumentar a concentração e em conseqüência obterá um bom resultado na prova. Portanto, não se deve estabelecer diferenças entre os tiro de ensaio e de prova.
4) Por outro lado, é interessante que o atirador entre em competição com uma certa tensão, pois isto acontece em outras provas olímpicas. Essa tensão não deve passar dos limites de uma boa motivação. O atirador deve entrar em competições motivado.
5) A tensão serve como um aquecimento ao atirador para motivá-lo ainda mais e para a obtenção de um bom resultado.
6) O nível de concentração deverá ser igual ao nível de relaxamento.
7) A motivação necessária para conseguir uma boa pontuação, deverá ser coerente com a possibilidade técnica de cada atirador.
8) Assim se temos um atirador cujo seu melhor resultado é de 536 pontos, não adianta prever que o mesmo irá fazer 560 pontos. Este tipo de pensamento só irá prejudicá-lo.
9) No entanto, se o atirador tentar atirar para chegar aos 540 pontos (dentro das possibilidades físicas) o fator motivação será benéfico
10) O treinamento individual deve ser feito com muito cuidado e com objetivo bem definido. Baseado no objetivo delineado procurar fazer a preparação e concentração necessária.
OBS: Foi feita uma pergunta ao técnico sobre qual o melhor tipo de massa de mira, estreita ou larga?
Schlomer respondeu que o tamanho da massa deve ser proporcional à luz existente no estande. Foi dito também que em caso de estande, como o do Rio, ter muita luminosidade a mira pode ser a mais larga.


 

Concorrem para o preparo do atirador:
a) Treinamento
b) Conhecimento técnico
c) Condicionamento físico

Para a preparação da arma:
a) Bom armeiro
b) Manutenção e limpeza da arma

7. EXERCÍCIOS DE RELAXAMENTO
- Sentar confortavelmente no seu posto e olhar fixamente para um ponto no gramado do estande;
- Verifique como está a sua respiração e a sua freqüência cardíaca.
- Está acelerada? Está desritmada?
- Inspire e expire profundamente.
- Repete-se o procedimento.
- Procure se concentrar na expiração ( a inspiração é voluntária).
- Observe de novo a sua respiração.
- Procure pensar de forma positiva (uma coisa agradável).
- Mentalizar: Agora vou carregar a arma.
- Tomara a posição de tiro.
- Levantar o braço.
- Inspirar profundamente.
- Realizar o alinhamento das miras.
- Respirar.
- Prender a respiração
- Pressionar o gatilho.
- Aumenta a pressão.
- Atirar
- Fazer o “follow trough”
- Descansar a arma.
- Relaxar
Realizar as ações acima planejadas. A Inspiração significa Tensão enquanto a Expiração significa Relaxamento.

Schlomer apresenta a seguir outro tipo de treinamento para o relaxamento, baseado no livro “Treinamento Autógeno” do Dr Schultz.
As principais ações são as seguintes:
- Sentar-se confortavelmente.
- Liberar o cinto da calça.
- Braços soltos caídos sobre as pernas.
- Deixar a cabeça cair.
- Fechar os olhos.
- Concentrar sobre o braço direito.
- O seu braço direito está pesado.
- Está ficando cada vez mais quente.
- Você se sente bem
- Está se sentindo mais calmo agora.
- Seu braço está pesado.
- Volte a sua posição normal.
- Respire profundamente, levantando vagarosamente o braço.

8. CONCLUSÕES
Schlomer disse que estenderia este curso para a Seleção Brasileira, com esta mesma programação. Já difundiu palestras para atiradores em São Paulo e Brasília, notando um grande interesse dos atiradores locais. Ressaltou o trabalho do técnico Silvino do Fluminense da Escola Naval, preparando novos valores para o Tiro Brasileiro. Reclamou que há poucos técnicos em clubes brasileiros (Federações), preparando e acompanhando novos atiradores.

 

 


por Eduardo Ferreira
Recordista e campeão brasileiro de armas longas da CBTE e das Forças Armadas. Ex vice-presidente da CBTE e da federação do DF, ex presidente das federações do RJ e CE, e diretor das federações da PB e RS. Autor de "Arma Longa" e "História do Tiro"
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