Criação
do Revólver Club -1914
1.
Implantação do Tiro Esportivo
Em face do insucesso da participação da delegação
brasileira de Tiro no Campeonato Pan-Americano de Tiro, realizado
na capital da Argentina, em 1910, e do declínio da Confederação
do Tiro Brasileiro, vários atiradores civis residentes
no Rio de Janeiro se reuniram e resolveram construir um estande
de tiro onde pudessem praticar o tiro esportivo, com armamento
próprio de competição e não somente
com armas de guerra utilizadas nas linhas de tiro militares.
Encontraram
na pessoa do esportista Alberto Pereira Braga, um bem sucedido
comerciante carioca que possuía uma granja na rua Fonte
da Saudade, situada junto à Lagoa Rodrigo de Freitas, no
sopé do Morro do Corcovado, o apoio necessário para
a realização desse sonho. Braga não só
cedeu o terreno, mas também custeou a construção
do estande de tiro. De linhas sóbrias, com apenas oito
“boxes”, o primeiro estande de clube construído
Brasil seguiu o modelo europeu, com um piso superior utilizado
para observar o andamento da prova sem incomodar os competidores.
Assim,
em 15 de maio de 1914, nascia o “Revólver Club”,
responsável pela formação daqueles atiradores
que iriam brilhar nos Jogos Olímpicos da Antuérpia
em 1920, trazendo as primeiras medalhas olímpicas para
o Brasil.
As
características do estande e do clube foram muito bem descritas
por um interessante artigo da época da fundação
do clube:
“A situação da sede social, além de
aprazível é apropriada para o tiro, pois na parte
final da linha de tiro é fechada um pára balas natural.
A
construção do stand é de estilo moderno,
proporcionando aos frequentadores excelente confôrto.
A
linha de tiro, além de optimo aspecto, presta-se perfeitamente
ao tiro, pelas obras nellas effectuadas, resultando a máxima
segurança e commodidade aos atiradores, durante os exercícios.
Nas
trincheiras abrigo estão dispostas, em aperfeiçoados
apparelhos, nove alvos que funcionam com rapidez extraordinária,
auxiliados pela installação electrica.
Há
também um alvo a 15 metros para aprendizes, quatro a 25
e igual número a 50 metros, para atiradores classificados.
Além
dos estatutos que regem o Club, está em organização
um regimento interno”.
“A
15 de maio, foi eleita a seguinte directoria, em assembléia
geral:
Presidente: Major Bernardo de Oliveira
Vice-presidente: Eugênio George
1º Secretário: Gabriel Nicolaus
2º Secretário: Aspirante Guilherme Paraense
Diretor de tiro: 1º. Tenente Arthur Baptista Oliveira
1º. Tesureiro: Alberto Pereira Braga
2º. Tesoureiro: Rodolpho Konding”
“Em
assembléia geral foram aclamados sócios beneméritos
os srs Alberto Pereira Braga e Arthur Baptista de Oliveira, pelos
relevantes e extraordinários serviços prestados
ao club, desde a sua organização”.
2.
Inauguração do estande
A 21 de junho o estande foi inaugurado oficialmente com a presença
de altas autoridades civis e militares, sendo convidado o Presidente
da República Marechal Hermes da Fonseca, grande incentivador
do Tiro, e parte do seu ministério. A organização
das provas atendeu às diversas categorias de atiradores,
conforme o programa abaixo descrito pelo jornal da época:
“O
concurso inaugural obedecerá ao seguinte programma:
1)Prova Atiradores – Mestres – alvo internacional
distância – 50 metros
disparos – 30 em tres series
2)Atiradores de 1ª classe – alvos c.c. no. 1
distancia – 50 metros
disparos - 18 em três series
3)Atiradores de 2ª classe – alvos c.c. no. 1
distancia – 25 metros
disparos – 18 em três series
4)Atiradores de 3ª classe – alvos c.c. no.1
distancia - 25 metros
disparos – 12 em duas series
O
“Revólver Club” representou muito mais do que
um clube de tiro grã-fino, instalado em área aprazível
do Rio de Janeiro, significou a consolidação do
esporte e o seu reconhecimento pelas autoridades civis e militares,
além do próprio Governo Federal.
Possivelmente
a maior dificuldade da época tivesse sido o número
reduzido de boas armas de competição, que ficavam
por conta daqueles atiradores que tiveram a oportunidade de adquiri-las
no exterior a preços elevados.
3.
Provas de tiro
O Clube teve uma vida desportiva muito ativa enquanto durou, sendo,
enfim, desativado no início dos anos 20. Os atiradores
que freqüentavam o “Revólver Club” perderam
o encanto e o interesse de competirem nele devido à construção
do espaçoso estande da Vila Militar (1917) e do moderno
estande do Fluminense (1919), localizado em área nobre
da cidade do Rio.
Não
se pode esquecer que importantes e inúmeras provas foram
disputadas na sua sede, como a realização dos primeiros
campeonatos estaduais, sob o patrocínio do Ministério
da Guerra e da Confederação do Tiro Brasileiro.
Nos treinos dominicais, chamados de “exercícios”
despontaram os grandes nomes do Tiro Nacional daquela época.
Os
campeões das provas foram invariavelmente o Tenente Guilherme
Paraense, vencedor das provas de revólver a 25 metros,
de Afrânio Costa, campeão das provas de pistola livre
a 50 metros, Fernando Soledade e o próprio Alberto Pereira
Braga.
Uma
das modalidades mais animada e concorrida registrada nos anais
da história do “Revólver Club” foi a
prova de duelo, onde cada dois atiradores, por vez, “batiam-se”
entre si, vestidos com longas e pesadas batas e portando máscaras
de esgrima para se protegerem. Tal qual um duelo do século
XVIII, os competidores se postavam inicialmente de costas um para
o outro e a um sinal do juiz, iniciavam a contagem das passadas
regulamentares, cerca de dez passos, voltavam-se um contra o outro
e disparavam imediatamente.
Os
armamentos usados pelos dois contendores eram antigas armas de
duelo, carregadas com uma bala de cera. Os atiradores iam sendo
eliminados pelo local do “impacto da cera” e que estivesse
mais longe do ”coração” de pano vermelho
costurado sobre a bata. Era proclamado campeão aquele que
superava o último concorrente. Essas foram, certamente,
as primeiras provas de “paint ball” realizadas no
Brasil, revestidas da maior segurança possível,
foram as precursoras da modalidade duelo, atualmente conhecidas
como tiro rápido.
Alberto
Pereira Braga teve um papel fundamental na implantação
do tiro na antiga capital federal, sendo depois seguido por seu
filho Armando Braga e pelo neto Alberto Pereira Braga, todos grandes
desportistas que se tornaram campeões de tiro.
por Eduardo Ferreira
Recordista e campeão brasileiro de armas longas da CBTE
e das Forças Armadas. Ex vice-presidente da CBTE e da federação
do DF, ex presidente das federações do RJ e CE,
e diretor das federações da PB e RS. Autor de "Arma
Longa" e "História do Tiro"
ferreiraedu@terra.com.br