Eduardo Ferreira
(ferreiraedu@terra.com.br)

 

Diretor de Tiro

Embora muita gente se considere um eficiente diretor de tiro, a verdade não é bem essa, pois alguns se esquecem de que a razão principal de um clube esportivo é sem dúvida o atleta, assim como numa escola moderna a principal figura é o aluno e não o professor. O Diretor de Tiro ou de estande de tiro de um clube deve estar atento aos anseios do seu quadro de atletas e as oportunidades surgidas e, para tal, deve procurar com equilíbrio e justiça atender as reivindicações em prol do desenvolvimento do próprio clube.

Não quer dizer que em sua gestão vá atender aos pedidos insólitos de todos os atiradores. Não é assim que se procede, pois deve haver critérios e bom senso para dinamizar o grupo que está sob a sua direção. Deve-se também compartilhar com outros diretores os problemas apresentados para se chegar a uma solução plausível e coerente com o seu cargo e os objetivos vigentes do clube.

Além disso, o diretor deve conhecer muito bem a história e zelar pelas tradições do clube, pois aqueles que não têm pleno conhecimento dos principais fatos estão fadados a cometerem os mesmos erros ou procedimentos inadequados do passado. Como exemplo de um procedimento correto, cito o fato do primeiro diretor de tiro do Fluminense, Dr. Afrânio Costa, que em apoio aos atiradores que disputaram os Jogos Olímpicos de Antuérpia em 1920, solicitou e conseguiu do então Presidente do clube - Dr. Arnaldo Guinle, a construção de um estande no interior do Fluminense, em uma área nobre junto ao atual ginásio do clube.

Assim, em 03 de agosto de 1919 o pequeno mais confortável estande foi inaugurado, servindo como palco para o treinamento e provas de inúmeros atletas tricolores até o ano de 1934, quando um novo estande com maior capacidade e moderno para a época fosse construído, e ainda hoje este estande vem atendendo satisfatoriamente aos sócios do clube.

Os resultados dos Jogos de Antuérpia todos têm pleno conhecimento: a conquista das três primeiras medalhas olímpicas de tiro do Brasil naquele evento. Se não fosse a sensibilidade, visão e persistência do Dr. Afrânio talvez essas medalhas não tivessem vindo, pois para treinar o tiro naquela época, tinha que se recorrer ao distante e rústico estande da Vila Militar, localizado em Deodoro para poder treinar o esporte. Convenhamos que para treinar no centro da cidade do Rio de Janeiro era bem mais fácil do que o estande da Vila.

Ao longo de sua história, o Fluminense contou com importantes diretores de tiro que marcaram as suas gestões. Atiradores como Antônio Guimarães, Luis Novaes, Silvino Ferreira e Angelamaria Lachtermacher formaram e incentivaram, em sua eficiente passagem técnica-administrativa pelo clube, vários renomados atletas do clube, que mantiveram o Fluminense no topo do Tiro Brasileiro. Esses diretores tinham uma grande preocupação em renovar o seu quadro de atletas e muitos deles mais tarde integraram as equipes nacionais e brilharam em eventos internacionais.

Portanto, é dessa maneira que visualizo aqueles que se propõem a serem diretores de tiro em seus clubes. Com certeza terão que se dedicar seu tempo à formação de novos valores, zelar e melhorar as instalações físicas do estande de tiro e estar atento às oportunidades de incentivar seus atletas e projetar o seu clube. Não é admissível um diretor de tiro que não seja pró-ativo, dinâmico e incentivador de seus atletas.

 

por Eduardo Fernandes Ferreira
Recordista e campeão brasileiro de armas longas da CBTE e das Forças Armadas. Ex-vice-presidente da CBTE e da federação do DF, ex-presidente das federações do RJ e CE, e diretor das federações da PB e RS. Autor de "Arma Longa", "História do Tiro" e “Manual de Organização de Provas de Tiro”.
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