Diretor
de Tiro
Embora
muita gente se considere um eficiente diretor de
tiro, a verdade não é bem essa, pois
alguns se esquecem de que a razão principal
de um clube esportivo é sem dúvida
o atleta, assim como numa escola moderna a principal
figura é o aluno e não o professor.
O Diretor de Tiro ou de estande de tiro de um clube
deve estar atento aos anseios do seu quadro de atletas
e as oportunidades surgidas e, para tal, deve procurar
com equilíbrio e justiça atender as
reivindicações em prol do desenvolvimento
do próprio clube.
Não
quer dizer que em sua gestão vá atender
aos pedidos insólitos de todos os atiradores.
Não é assim que se procede, pois deve
haver critérios e bom senso para dinamizar
o grupo que está sob a sua direção.
Deve-se também compartilhar com outros diretores
os problemas apresentados para se chegar a uma solução
plausível e coerente com o seu cargo e os
objetivos vigentes do clube.
Além
disso, o diretor deve conhecer muito bem a história
e zelar pelas tradições do clube,
pois aqueles que não têm pleno conhecimento
dos principais fatos estão fadados a cometerem
os mesmos erros ou procedimentos inadequados do
passado. Como exemplo de um procedimento correto,
cito o fato do primeiro diretor de tiro do Fluminense,
Dr. Afrânio Costa, que em apoio aos atiradores
que disputaram os Jogos Olímpicos de Antuérpia
em 1920, solicitou e conseguiu do então Presidente
do clube - Dr. Arnaldo Guinle, a construção
de um estande no interior do Fluminense, em uma
área nobre junto ao atual ginásio
do clube.
Assim,
em 03 de agosto de 1919 o pequeno mais confortável
estande foi inaugurado, servindo como palco para
o treinamento e provas de inúmeros atletas
tricolores até o ano de 1934, quando um novo
estande com maior capacidade e moderno para a época
fosse construído, e ainda hoje este estande
vem atendendo satisfatoriamente aos sócios
do clube.
Os
resultados dos Jogos de Antuérpia todos têm
pleno conhecimento: a conquista das três primeiras
medalhas olímpicas de tiro do Brasil naquele
evento. Se não fosse a sensibilidade, visão
e persistência do Dr. Afrânio talvez
essas medalhas não tivessem vindo, pois para
treinar o tiro naquela época, tinha que se
recorrer ao distante e rústico estande da
Vila Militar, localizado em Deodoro para poder treinar
o esporte. Convenhamos que para treinar no centro
da cidade do Rio de Janeiro era bem mais fácil
do que o estande da Vila.
Ao
longo de sua história, o Fluminense contou
com importantes diretores de tiro que marcaram as
suas gestões. Atiradores como Antônio
Guimarães, Luis Novaes, Silvino Ferreira
e Angelamaria Lachtermacher formaram e incentivaram,
em sua eficiente passagem técnica-administrativa
pelo clube, vários renomados atletas do clube,
que mantiveram o Fluminense no topo do Tiro Brasileiro.
Esses diretores tinham uma grande preocupação
em renovar o seu quadro de atletas e muitos deles
mais tarde integraram as equipes nacionais e brilharam
em eventos internacionais.
Portanto,
é dessa maneira que visualizo aqueles que
se propõem a serem diretores de tiro em seus
clubes. Com certeza terão que se dedicar
seu tempo à formação de novos
valores, zelar e melhorar as instalações
físicas do estande de tiro e estar atento
às oportunidades de incentivar seus atletas
e projetar o seu clube. Não é admissível
um diretor de tiro que não seja pró-ativo,
dinâmico e incentivador de seus atletas.
por
Eduardo Fernandes Ferreira
Recordista e campeão brasileiro de armas
longas da CBTE e das Forças Armadas. Ex-vice-presidente
da CBTE e da federação do DF, ex-presidente
das federações do RJ e CE, e diretor
das federações da PB e RS. Autor de
"Arma Longa", "História do
Tiro" e “Manual de Organização
de Provas de Tiro”.
ferreiraedu@terra.com.br