1927
– Extinção da Federação Brasileira
de Tiro
Infelizmente
a Federação Brasileira de Tiro (FBT), fundada em
02 de julho de 1923 no Rio de Janeiro, não teve uma vida
muito longa devido a uma série de fatores políticos
e desportivos, que prejudicaram o seu desenvolvimento. Entretanto,
seria injusto não reconhecer que a entidade prestou uma
importante colaboração ao Tiro Esportivo, apesar
do grave momento político vivido no País. Ela deu
continuidade às atividades desportivas e regulamentou as
competições de tiro, dentro dos padrões internacionais
da UIT, durante o período de quatro anos.
Na
realidade, a Federação Brasileira de Tiro foi uma
continuação dos objetivos colimados pela antiga
Confederação do Tiro Brasileiro (CBT), exceto por
alguns detalhes, e poderíamos dizer que a FBT era uma cópia
melhorada da CBT, fundada em 1906 pelo deputado Dr. Elysio de
Araújo e pelo General Cruz Brilhante.
Em
outro artigo já havíamos visto que a Confederação
tinha perdido a sua autonomia administrativa ficando a sua atividade
dependente das decisões emanadas pela Diretoria Geral do
Tiro de Guerra, ligada ao antigo Ministério da Guerra.
Em razão disso, cresceu um movimento entre os atiradores
para a criação de uma entidade desportiva totalmente
independente da ação do Ministério da Guerra
e com uma estrutura semelhante às organizações
civis do Tiro Esportivo internacional.
Com
esse propósito foi criada essa nova entidade do Tiro, reunindo
os grandes nomes do tiro da época e contando com a experiência
e liderança do incansável Dr. Afrânio Antônio
da Costa para moldar uma federação à semelhança
da UIT.
Não
podemos esquecer que a FBT contou com a boa vontade e o apoio
da Liga da Defesa Nacional, particularmente do seu presidente
Dr.Coelho Neto, o mesmo dirigente que apoiou a viagem da equipe
brasileira aos Jogos Olímpicos da Antuérpia. Dr
Coelho Neto cedeu gentilmente uma sala de sua sede, na Rua do
Ouvidor No. 89, para o funcionamento da Federação
Brasileira.
No
ano seguinte da sua fundação, em 1924, o secretário
Dr. Afrânio encaminhou um ofício à União
Internacional de Tiro (UIT), solicitando a filiação
da Federação Brasileira de Tiro àquela entidade
máxima do Tiro Esportivo Internacional. O Tiro Nacional
alcançava, dessa maneira, a sua maioridade desportiva.
O reconhecimento da FBT pela UIT e pelas demais entidades desportivas
brasileiras foi um grande marco na História do Tiro Brasileiro,
tão importante quanto às medalhas olímpicas
obtidas pelos atiradores na Antuérpia.
Do
Boletim oficial da UIT, de 1924, extraímos a seguinte notícia:
“Le Bureau de L’Union a reçu la demande d’admission
dans L’Union Internationale de Tir de la Fédération
de Tir du Brésil dont le siège est a Rio de Janeiro.
Conformément aux statuts, la candidature de cette fédération
est inserée au present Bulletin Officiel et, sans opposition,
dans le délai d’un mois son admission sera prononcée
par le Bureau de l’Union”
O
próximo passo da Diretoria da Federação foi
o da preparação da equipe de tiro para os IX Jogos
Olímpicos, marcados para aquele mesmo ano para a Cidade
Luz, aproveitando do bom momento que os nossos atletas desfrutavam
com os recentes feitos na Antuérpia, em 1920 e nos Jogos
Latino-Americanos, realizados no Rio de Janeiro em 1922, em comemoração
ao Centenário da nossa Independência.
Em
face dos desentendimentos ocorridos entre os dirigentes da Liga
da Defesa Nacional e os da Confederação Brasileira
de Desportos (CBD) por falta de recursos, a FBT deixou de enviar
uma equipe aos Jogos Olímpicos de Paris. O COB, registrou
apenas a presença de um atirador brasileiro, cujo nome
e resultado são desconhecidos pelo COB e pela CBTE até
hoje.
Da
revista dos 90 anos comemorativos do COB, extraímos o seguinte
comentário da época: “O problema da obtenção
de recursos era o grande desafio deste período. O deslocamento
dos atletas era caro e complexo, consumindo a quase totalidade
dos recursos conseguidos. Os recursos para a participação
brasileira nos Jogos de Paris foram reunidos pelo Presidente da
Federação Paulista de Atletismo, Antônio Prado
Júnior. O dirigente paulista e o Sr José Ferreira
Santos que, junto com o empresário Arnaldo Guinle havia
sido eleito delegado do Comitê Olímpico Internacional,
no ano de 1923, não aceitaram a justificativa de corte
da equipe de atletismo por parte da CBD, em virtude da falta de
recursos oficiais. A CBD havia garantido apenas a participação
das equipes de tiro, remo, futebol e water-pólo, contando
com verba prometida pelo governo federal. Prado Júnior
e Ferreira Santos lideraram uma bem-sucedida campanha de subscrição
pública, patrocinada pelo jornal O Estado de S.Paulo para
angariar fundos, doando eles próprios uma grande soma e
contando com a colaboração de outros empresários
paulistas.
Após tantas atribulações, em maio, embarcava
em Santos, para representar o Brasil nos Jogos de Paris, apenas
a equipe de atletismo paulista composta de nove atletas, acompanhados
pelo chefe da delegação, o jornalista Américo
Netto e o técnico A. Hogarty: a verba obtida pela CBD fora
cancelada pelo governo federal às vésperas do embarque.”
O
fracasso pela não inscrição da nossa equipe
no Jogos de Paris, bem comprova a desorganização
do esporte naquela época, bem como as desavenças
e vaidades entre as entidades desportivas. Esta decisão
do governo federal e da CBD prejudicou sobremaneira os nossos
atiradores e o Tiro Esportivo em geral, jogando fora uma ótima
oportunidade de colher novas vitórias e medalhas.
Entre
1923 e 1927, a FBT promoveu uma série de competições
com os seguintes vencedores nas principais provas disputadas:
1) Campeonato do Rio de Janeiro – 06/10/23 – Vila
Militar – equipes participantes: Fluminense; América,
São Cristóvão, Ypiranga e Andarahy.
- Pistola Livre: Afrânio Costa (FFC)
- Pistola Parabelum: Afrânio Costa (FFC)
- Revólver: Afrânio Costa (FFC)
- Carabina Calibre Reduzido: João Macedo (FFC)
- Tiro ao vôo: Otto Moher (FFC)
- Tiro ao Veado: Cap Fernando Vigarano (AFC)
- Fuzil Livre: Cap Dilermando de Assis (SCFR)
2)
Campeonato Brasileiro – 26/11/1923 – Vila Militar
- Pistola Parabellum –10 tiros - 25 m – Ten Euclides
Zenóbio da Costa: 85 pontos
- Revólver - 20 tiros – 50 m – Afrânio
Costa: 151 pontos
- Fuzil de Guerra – 5 tiros – 300m – Erasmino
Gogliano: 42 pontos
- Fuzil de Guerra – 20 tiros – 300m – Cap Dilermando
de Assis: 158 pontos
3)
Campeonato da Cidade do Rio de Janeiro – 25/09/1925
- Revólver – 60 tiros – 50 m – Afrânio
Costa: 456 pontos
- Fuzil de Guerra – 3 X 20 – 300 m – 1º
Ten Euclides Zenóbio da Costa: 423 pontos
4)
Campeonato Brasileiro de Tiro – 25/11/1925 – Vila
Militar
- Revólver – 50 m - 1º Ten Antônio Ferraz
da Silveira: 203 pontos
- Fuzil de Guerra – 10 tiros deitado – 300m - Júlio
Thiers Perissé: 82 pontos
5)
Campeonato do Fluminense – 29/07/1926
- Revólver – 30 tiros – 50 m – Afrânio
Costa: 221 pontos
6)
Campeonato do Fluminense – 26/Jun/1927
- 1º Ten Antônio Ferraz da Silveira: 231 pontos
Em 1927 a Federação Brasileira de Tiro deixou de
existir por imposição da CBD, que na época
regia o desporto nacional, ficando o Tiro entregue às entidades
regionais, porém, isto será assunto para o próximo
artigo, onde veremos também os resultados dos primeiros
campeonatos brasileiros.
por Eduardo Ferreira
Recordista e campeão brasileiro de armas longas da CBTE
e das Forças Armadas. Ex vice-presidente da CBTE e da federação
do DF, ex presidente das federações do RJ e CE,
e diretor das federações da PB e RS. Autor de "Arma
Longa" e "História do Tiro"
ferreiraedu@terra.com.br