Eduardo Ferreira
(ferreiraedu@terra.com.br)

1927 – Extinção da Federação Brasileira de Tiro

Infelizmente a Federação Brasileira de Tiro (FBT), fundada em 02 de julho de 1923 no Rio de Janeiro, não teve uma vida muito longa devido a uma série de fatores políticos e desportivos, que prejudicaram o seu desenvolvimento. Entretanto, seria injusto não reconhecer que a entidade prestou uma importante colaboração ao Tiro Esportivo, apesar do grave momento político vivido no País. Ela deu continuidade às atividades desportivas e regulamentou as competições de tiro, dentro dos padrões internacionais da UIT, durante o período de quatro anos.

Na realidade, a Federação Brasileira de Tiro foi uma continuação dos objetivos colimados pela antiga Confederação do Tiro Brasileiro (CBT), exceto por alguns detalhes, e poderíamos dizer que a FBT era uma cópia melhorada da CBT, fundada em 1906 pelo deputado Dr. Elysio de Araújo e pelo General Cruz Brilhante.

Em outro artigo já havíamos visto que a Confederação tinha perdido a sua autonomia administrativa ficando a sua atividade dependente das decisões emanadas pela Diretoria Geral do Tiro de Guerra, ligada ao antigo Ministério da Guerra. Em razão disso, cresceu um movimento entre os atiradores para a criação de uma entidade desportiva totalmente independente da ação do Ministério da Guerra e com uma estrutura semelhante às organizações civis do Tiro Esportivo internacional.

Com esse propósito foi criada essa nova entidade do Tiro, reunindo os grandes nomes do tiro da época e contando com a experiência e liderança do incansável Dr. Afrânio Antônio da Costa para moldar uma federação à semelhança da UIT.

Não podemos esquecer que a FBT contou com a boa vontade e o apoio da Liga da Defesa Nacional, particularmente do seu presidente Dr.Coelho Neto, o mesmo dirigente que apoiou a viagem da equipe brasileira aos Jogos Olímpicos da Antuérpia. Dr Coelho Neto cedeu gentilmente uma sala de sua sede, na Rua do Ouvidor No. 89, para o funcionamento da Federação Brasileira.

No ano seguinte da sua fundação, em 1924, o secretário Dr. Afrânio encaminhou um ofício à União Internacional de Tiro (UIT), solicitando a filiação da Federação Brasileira de Tiro àquela entidade máxima do Tiro Esportivo Internacional. O Tiro Nacional alcançava, dessa maneira, a sua maioridade desportiva. O reconhecimento da FBT pela UIT e pelas demais entidades desportivas brasileiras foi um grande marco na História do Tiro Brasileiro, tão importante quanto às medalhas olímpicas obtidas pelos atiradores na Antuérpia.

Do Boletim oficial da UIT, de 1924, extraímos a seguinte notícia:
“Le Bureau de L’Union a reçu la demande d’admission dans L’Union Internationale de Tir de la Fédération de Tir du Brésil dont le siège est a Rio de Janeiro.
Conformément aux statuts, la candidature de cette fédération est inserée au present Bulletin Officiel et, sans opposition, dans le délai d’un mois son admission sera prononcée par le Bureau de l’Union”

O próximo passo da Diretoria da Federação foi o da preparação da equipe de tiro para os IX Jogos Olímpicos, marcados para aquele mesmo ano para a Cidade Luz, aproveitando do bom momento que os nossos atletas desfrutavam com os recentes feitos na Antuérpia, em 1920 e nos Jogos Latino-Americanos, realizados no Rio de Janeiro em 1922, em comemoração ao Centenário da nossa Independência.

Em face dos desentendimentos ocorridos entre os dirigentes da Liga da Defesa Nacional e os da Confederação Brasileira de Desportos (CBD) por falta de recursos, a FBT deixou de enviar uma equipe aos Jogos Olímpicos de Paris. O COB, registrou apenas a presença de um atirador brasileiro, cujo nome e resultado são desconhecidos pelo COB e pela CBTE até hoje.

Da revista dos 90 anos comemorativos do COB, extraímos o seguinte comentário da época: “O problema da obtenção de recursos era o grande desafio deste período. O deslocamento dos atletas era caro e complexo, consumindo a quase totalidade dos recursos conseguidos. Os recursos para a participação brasileira nos Jogos de Paris foram reunidos pelo Presidente da Federação Paulista de Atletismo, Antônio Prado Júnior. O dirigente paulista e o Sr José Ferreira Santos que, junto com o empresário Arnaldo Guinle havia sido eleito delegado do Comitê Olímpico Internacional, no ano de 1923, não aceitaram a justificativa de corte da equipe de atletismo por parte da CBD, em virtude da falta de recursos oficiais. A CBD havia garantido apenas a participação das equipes de tiro, remo, futebol e water-pólo, contando com verba prometida pelo governo federal. Prado Júnior e Ferreira Santos lideraram uma bem-sucedida campanha de subscrição pública, patrocinada pelo jornal O Estado de S.Paulo para angariar fundos, doando eles próprios uma grande soma e contando com a colaboração de outros empresários paulistas.
Após tantas atribulações, em maio, embarcava em Santos, para representar o Brasil nos Jogos de Paris, apenas a equipe de atletismo paulista composta de nove atletas, acompanhados pelo chefe da delegação, o jornalista Américo Netto e o técnico A. Hogarty: a verba obtida pela CBD fora cancelada pelo governo federal às vésperas do embarque.”

O fracasso pela não inscrição da nossa equipe no Jogos de Paris, bem comprova a desorganização do esporte naquela época, bem como as desavenças e vaidades entre as entidades desportivas. Esta decisão do governo federal e da CBD prejudicou sobremaneira os nossos atiradores e o Tiro Esportivo em geral, jogando fora uma ótima oportunidade de colher novas vitórias e medalhas.

Entre 1923 e 1927, a FBT promoveu uma série de competições com os seguintes vencedores nas principais provas disputadas:
1) Campeonato do Rio de Janeiro – 06/10/23 – Vila Militar – equipes participantes: Fluminense; América, São Cristóvão, Ypiranga e Andarahy.
- Pistola Livre: Afrânio Costa (FFC)
- Pistola Parabelum: Afrânio Costa (FFC)
- Revólver: Afrânio Costa (FFC)
- Carabina Calibre Reduzido: João Macedo (FFC)
- Tiro ao vôo: Otto Moher (FFC)
- Tiro ao Veado: Cap Fernando Vigarano (AFC)
- Fuzil Livre: Cap Dilermando de Assis (SCFR)

2) Campeonato Brasileiro – 26/11/1923 – Vila Militar
- Pistola Parabellum –10 tiros - 25 m – Ten Euclides Zenóbio da Costa: 85 pontos
- Revólver - 20 tiros – 50 m – Afrânio Costa: 151 pontos
- Fuzil de Guerra – 5 tiros – 300m – Erasmino Gogliano: 42 pontos
- Fuzil de Guerra – 20 tiros – 300m – Cap Dilermando de Assis: 158 pontos

3) Campeonato da Cidade do Rio de Janeiro – 25/09/1925
- Revólver – 60 tiros – 50 m – Afrânio Costa: 456 pontos
- Fuzil de Guerra – 3 X 20 – 300 m – 1º Ten Euclides Zenóbio da Costa: 423 pontos

4) Campeonato Brasileiro de Tiro – 25/11/1925 – Vila Militar
- Revólver – 50 m - 1º Ten Antônio Ferraz da Silveira: 203 pontos
- Fuzil de Guerra – 10 tiros deitado – 300m - Júlio Thiers Perissé: 82 pontos

5) Campeonato do Fluminense – 29/07/1926
- Revólver – 30 tiros – 50 m – Afrânio Costa: 221 pontos

6) Campeonato do Fluminense – 26/Jun/1927
- 1º Ten Antônio Ferraz da Silveira: 231 pontos


Em 1927 a Federação Brasileira de Tiro deixou de existir por imposição da CBD, que na época regia o desporto nacional, ficando o Tiro entregue às entidades regionais, porém, isto será assunto para o próximo artigo, onde veremos também os resultados dos primeiros campeonatos brasileiros.



por Eduardo Ferreira
Recordista e campeão brasileiro de armas longas da CBTE e das Forças Armadas. Ex vice-presidente da CBTE e da federação do DF, ex presidente das federações do RJ e CE, e diretor das federações da PB e RS. Autor de "Arma Longa" e "História do Tiro"
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