1941
a 1947 – Fundação da CBTA
1.
O Tiro Esportivo sob a édige da CBCT
Com a deflagração da II Guerra Mundial, o Tiro Esportivo
sofreu as conseqüências da falta de isenção
do Governo Federal e principalmente da insensibilidade dos dirigentes
dos órgãos desportivos do País. O esporte
viveu dias amargos e difíceis, devido à medida proibitiva
imposta pelo Governo Federal de fechar os clubes de tiro nas regiões
onde predominavam as colonizações alemã e
italiana, bem como a proibição da prática
do tiro e o recolhimento das armas de guerra no sul do País
(fuzis e pistolas parabellum).
Paralelamente
ao fato, foi promulgada a Lei No. 3199, de 14 de abril de 1941,
determinando que todos os desportos amadores devessem ser dirigidos
obrigatoriamente por uma “confederação”
e que a mesma deveria possuir, no mínimo, três federações
a ela filiadas.
Assim,
com base na Lei do Esporte do Brasil foi criada a Confederação
Brasileira de Caça e Tiro (CBCT), em 8 de julho de 1942,
congregando atiradores e caçadores sob uma mesma entidade
desportiva. Mais uma vez a Federação Brasileira
de Tiro sucumbiu e ficou subordinada a uma entidade completamente
desvinculada e descompromissada com os ideais do tiro olímpico.
A
CBCT teve como primeiro presidente o desconhecido Tenente Coronel
Américo Braga, Comandante da EsIE, sediada na Vila Militar.
A nova confederação foi organizada com três
departamentos distintos:
• tiro ao prato,
• tiro ao pombo
• tiro à bala.
Muito
pouco de produtivo foi feito na sua gestão em prol do tiro
à bala. O Tiro Esportivo praticamente “morreu”.
Os abnegados atiradores não tinham ao menos um calendário
de provas e nem eram convocados para as reuniões da Confederação.
O quadro era bem desolador: estandes fechados ou vazios, antigos
dirigentes desprestigiados e afastados das decisões do
esporte. De que adiantou o Tiro Esportivo ter obtido as três
primeiras medalhas olímpicas em 1920 se os antigos dirigentes
do Tiro Esportivo não tinham voz ativa dentro da nova entidade?
A
inexistência de competições nacionais do Tiro
Esportivo e os seguidos atritos e discussões ocorridos
entre o pessoal do “chumbo” e o da “bala”,
comprovaram a omissão e a incompetência dos dirigentes
da CBCT, especialmente do Presidente Américo Braga, que
não soube conciliar os grupos e de estruturar o Tiro nacional.
Em
compensação o tiro ao pombo e o tiro ao prato foram
bastante prestigiados e beneficiados pelos dirigentes da CBCT,
com calendário carregado de provas, premiações
e participações de seus atiradores nas decisões
das assembléias da Confederação. Para se
ter uma idéia do quadro existente, em 1944 houve quatro
torneios regionais e um campeonato nacional de tiro ao prato,
divididos em três turnos, promovidos pela Confederação
de Caça.
Nesse
período o Tiro ao Alvo só sobreviveu graças
à atuação e à persistência de
Antônio Martins Guimarães, Diretor de Tiro do Fluminense
Futebol Clube, organizando provas internas e convidando atiradores
de outros clubes para participarem das competições.
2.
Fundação das Federações de Tiro ao
Alvo
Contrariados com aquela situação indesejável
e constrangedora de ver o tiro à bala desprestigiado e
reduzido a um simples departamento da nova confederação,
vários dirigentes e atiradores antigos se articularam e
iniciaram um movimento em prol do restabelecimento do prestígio
e dos objetivos do Tiro Esportivo.
Esse
movimento foi liderado pelo experiente Dr. Antônio Martins
Guimarães, amigo e fiel seguidor das idéias do Ministro
Afrânio Costa, que havia se afastado do esporte logo após
a decisão do Governo em criar a CBCT.
Além
de Guimarães, o mineiro Álvaro José dos Santos
Júnior, o paulista Tenente Coronel Antônio Ferraz
da Silveira e do paranaense Eugênio Caetano do Amaral se
organizaram com o intuito de fundar uma entidade ligada ao Tiro
Esportivo.
O
movimento que teve origem no Rio de Janeiro, logo se alastrou
para outros estados e com o apoio do Comitê Olímpico
Brasileiro (COB), em virtude de o Tiro ser um esporte olímpico
e contando ainda com a ajuda eficiente do General Breno Pernetta,
comandante da 5ª. Região Militar, Eugênio Caetano
do Amaral fundou a 10 de maio de 1946 a Federação
Paranaense de Tiro ao Alvo. Logo em seguida, foi fundada a Federação
Metropolitana de Tiro ao Alvo (FMTA), em 7 de junho de 1946, com
a filiação dos clubes: Fluminense, Flamengo, São
Cristóvão e Bangu, tendo como presidente o mineiro
Dr. Álvaro Santos, que mais tarde se tornaria o grande
campeão brasileiro de pistola livre.
Três
dias depois, em 10 de junho de 1946, foi fundada a Federação
Paulista de Tiro ao Alvo (FPTA), presidida pelo Ten Cel Antônio
Ferraz da Silveira e contando com os clubes Tietê, Santos,
Floresta e Duque de Caxias (Ribeirão Preto). Posteriormente
a federação de Minas Gerais veio se juntar às
três coirmãs. Dessa maneira, estavam os alicerces
da futura confederação devidamente implantados.
3.
Fundação da Confederação Brasileira
de Tiro ao Alvo (1947)
Tendo as quatro federações como âncoras, o
passo seguinte foi a fundação da CONFEDERAÇÃO
BRASILEIRA DE TIRO AO ALVO (CBTA), ocorrida em 28 de novembro
de 1947, com sede no Rio de Janeiro, sendo novamente eleito para
presidente, por unanimidade, o Ministro Afrânio Antônio
da Costa.
No
dia da posse, ocorrida no auditório da Associação
Brasileira de Imprensa (ABI), estavam presentes os velhos companheiros
da Antuérpia, Tenente Coronel Guilherme Paraense, já
na reserva, General Demerval Peixoto e o Dr. Dilermando Cruz,
que ouviram emocionados o discurso do antigo “capitão
da equipe brasileira”, que os havia liderado naquela memorável
jornada épica.
É
bem provável que naquele momento os seus pensamentos estivessem
voltados para o ano de 1920 e para a velha cidade belga da Antuérpia.
A improvisada e rústica linha de tiro do Exército;
o extenso e o incômodo areal onde os alvos eram fincados;
nenhuma proteção para os atiradores competirem;
assistência curiosa e barulhenta, postada atrás dos
atiradores mais famosos, acompanhando os tiros com seus binóculos;
a alegria de toda a equipe após o último disparo
de Paraense; a entrega de medalhas aos nossos atiradores e a chegada
triunfal ao Rio de Janeiro, com direito à recepção
pelo Presidente da República, tudo isso parecia um sonho
distante...
Além
da presença desses “heróis”, um grande
número de atiradores famosos, do presente e do passado,
como Tenente Coronel Antônio Ferraz da Silveira, General
Zenóbio da Costa, foram levar o seu apoio à entidade
e ao mais notável dos nossos atiradores, que mais uma vez
era convocado para assumir a presidência da Confederação.
Do
discurso de Afrânio, verdadeiro retrospecto da história
do Tiro Brasileiro, ressalta-se o seguinte trecho, que representava
o pensamento e os ideais da antiga Confederação
Geral de Tiro, criada em 1906: “Em cada uma cidade um stand
e um núcleo de atiradores de elite, que permita a todos
os brasileiros uma preparação real e eficiente para
a defesa do solo e das instituições, que insensivelmente
promove o adestramento de todos e de cada um por via de diversão;
de tal sorte que essa difícil e importante feição
do soldado não preocupe demasiadamente às autoridades
militares que terão suas cogitações aliviadas
por esse auxílio disseminado por todo o País”.
Ao
se desligar da Confederação Brasileira de Caça
e Tiro, o Tiro Esportivo Brasileiro voltava a ser finalmente reconhecido
nacionalmente pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB)
e retomava o seu caminho de triunfo e de glórias. As ligações
com a UIT foram prontamente reativadas e a delegação
brasileira começou a se preparar para os Jogos Olímpicos
de Londres, porém, veremos esse acontecimento no próximo
artigo, inclusive com os esforços da CBCT de impedir o
embarque da delegação para Londres.
por Eduardo Ferreira
Recordista e campeão brasileiro de armas longas da CBTE
e das Forças Armadas. Ex vice-presidente da CBTE e da federação
do DF, ex presidente das federações do RJ e CE,
e diretor das federações da PB e RS. Autor de "Arma
Longa" e "História do Tiro"
ferreiraedu@terra.com.br