DR. AFRÂNIO COSTA –
MITO INESQUECÍVEL DO TIRO
Com
a aproximação dos Jogos Olímpicos
há sempre alguém interessado e rebuscando
a História do Tiro, mais precisamente sobre
o feito do Tenente Guilherme Paraense, vencedor
da primeira medalha de ouro olímpica do Brasil.
O
que muitas pessoas desconhecem é a participação
importante e decisiva do grande esportista, dirigente
e atirador Dr. Afrânio Antônio da Costa,
responsável pela conquista da primeira medalha
olímpica, prata na pistola livre e pelo sucesso
do feito de Paraense e da equipe de pistola que
conquistou a medalha de bronze.
Medalha de prata de Afrânio
Para
ser mais preciso, devemos voltar um ano atrás
daquele memorável feito histórico
na Antuérpia em 1920, quando Afrânio
Costa foi nomeado diretor de tiro do Fluminense
e em parceria com o Presidente do Clube –
Dr. Arnaldo Guinle, construiu o primeiro estande
de tiro do Clube Tricolor, em 03 de agosto de 1919.
Foi nesse pequeno e modesto estande de seis “boxes”
que a equipe brasileira se preparou antes da partida
para os Jogos Olímpicos da Antuérpia,
realizando treinamentos e apurando a pontaria.
03/08/1919 – Inauguração
do estande do Fluminense
A
viagem para os Jogos com todas as dificuldades vividas
já foram narradas no relatório do
“capitão” da equipe, Dr. Afrânio
Costa e foram detalhadamente contadas em outro artigo
no site da FMTE e do TiroFLU. Dr. Afrânio
sempre esteve à frente de sua equipe e providenciou
os recursos necessários para a viajem e à
reposição da munição
roubada da equipe.
Na
chegada à Antuérpia a equipe foi recebida
pelo prefeito local e pelo representante oficial
da UIT para os Jogos. Dr. Afrânio, jovem advogado
e fluente no idioma francês, estabeleceu contato
com os representantes dos Jogos e foi o responsável
pela ligação com os dirigentes da
competição.
A
fase de treinamento nos Campos de Beverloo foi bastante
árdua e difícil, porém a equipe
brasileira estava unida com o firme propósito
de representar bem o Brasil na primeira participação
do País nos Jogos Olímpicos. O Dr.
Afrânio diariamente reunia os seus atiradores
e caminhavam com os alvos pendurados nas costas,
carregando armas e munições para o
improvisado estande ao ar livre situado a mais de
3 km do acampamento. Devido à ocupação
alemã no território belga na primeira
Guerra Mundial, todas as instalações
militares foram destruídas, inclusive o estande
de tiro, daí a improvisação
do estande. No entanto, nem o desconforto pela condução
dos alvos e nem pelas dificuldades encontradas tiraram
a vontade dos atiradores.
1920 - EQUIPE BRASILEIRA NOS JOGOS OLÍMPICOS
DA ANTUÉRPIA:
FERNANDO SOLEDADE – TEN GUILHERME PARAENSE
– AFRÂNIO COSTA –
TEN MÁRIO MAURETY E DARIO BARBOSA
No
primeiro dia de competição veio à
notícia que encheu toda equipe de alegria
e de esperança: Afrânio se classificou
em segundo lugar e a equipe de pistola livre conquistou
a medalha de bronze. Duas medalhas obtidas no mesmo
dia e de forma tão surpreendente por uma
equipe que saiu do Brasil desacreditada pelos dirigentes
e pelos desportistas do País.
Mais
surpresas ocorreriam. Sobre o episódio do
empréstimo de dois Revólveres “Colt”
de oito polegadas, pela equipe norte-americana à
equipe foi outra participação e iniciativa
do Afrânio que contou com a gentileza e o
alto espírito desportivo do coronel Snyders,
chefe da equipe norte-americana, emprestando as
armas. A vitória de Paraense iria coroar
o magnífico esforço e o brilho da
delegação brasileira.
É
interessante que muitas pessoas até hoje
não acreditam que os norte-americanos tenham
cedido dois revólveres para a equipe brasileira.
As fotos, em anexo, mostram a arma emprestada ao
Tenente Guilherme Paraense que redundou na medalha
de ouro para o Brasil. Achar que com os revólveres
de “serviço” do Exército
pudessem obter um bom resultado em prova de tiro,
somente a cabeça de um leigo poderia emitir
tal opinião. Numa festividade, em 2007, realizada
no Fluminense, o Revólver “Colt”
e a pistola livre de Afrânio foram fotografadas.
O
objetivo desse artigo foi de apresentar os fatos
como realmente aconteceram, segundo o relatório
produzido pelo próprio Afrânio e que
consta do livro “A História do Tiro
ao Alvo”, editado pela Forjas Taurus em 1986.
Recentemente muita coisa foi apresentada e difundida
com inverdades e informações desencontradas
por noticiários esportivos e “compilações”
mal redigidas, inclusive uma alegando que o porta-bandeira
da equipe brasileira na cerimônia de abertura
tinha sido Dr. Afrânio ao invés do
Tenente Guilherme Paraense, como mostra a foto.
1920 – CERIMÔNIA DE ABERTURA
DOS JOGOS OLÍMPICOS DA ANTUÉRPIA
TEN DEMERVAL PEIXOTO – TEN GUILHERME PARAENSE
(PORTA-BANDEIRA)
E TEN MÁRIO MAURETY
Em 1951, ainda criança, e levado pelo meu
pai Silvino Fernandes Ferreira, fui testemunha da
homenagem feita aos dois atiradores por Antônio
Guimarães, Diretor de Tiro do Fluminense,
no estande do clube. Na ocasião foram realçadas
as qualidades e a amizade dos dois companheiros
de equipe, demonstrando a união e o respeito
pelo antigo “capitão” daquela
epopéia.
Não tenho a intenção nem o
propósito de tirar o brilho insofismável
da vitória do Tenente Guilherme Paraense
nos Jogos da Antuérpia. Guilherme Paraense
sempre foi um militar correto, grande atirador e
uma pessoa simples e amiga do seu grande “capitão”
e merece todo o meu respeito e admiração.
Infelizmente os brasileiros somente tecem louvores
aos medalhistas de ouro, esquecendo daqueles
que contribuíram para a glória de
uma equipe e do apoio ao campeão, e aqueles
que também conquistaram outras importantes
medalhas.
Acredito
que o trabalho do Dr. Afrânio deva ser reconhecido
e admirado como aquele que foi o fundador do Tiro
Brasileiro.
Convém
ressaltar que a 1a. medalha de ouro do Brasil, nos
Jogos Olímpicos de Antuérpia, não
foi a vitória isolada de um atirador, mas
sim o esforço em conjunto que concorreram
para o mérito de toda uma equipe.
Afrânio
Costa e Guilherme Paraense
Primeiras
Medalhas Olímpicas do Brasil
EXPOSIÇÃO
NA FESTA DE 88 ANOS DO STAND DO FLUMINENSE FFC -
2007
e Alvo da prova de Guilherme Paraense –
274 pontos
Homenagem da Diretoria de Tiro do Fluminense
Dra. Angelamaria Rosa Lachtermacher
ao Primeiro Diretor de Tiro do Fluminense,
Ex-MINISTRO Dr. AFRÂNIO ANTONIO DA COSTA
Agosto de 2007.