POLÍGONO
DE TIRO TENENTE GUILHERME PARAENSE
1.
HISTÓRICO
Em 05 de maio de 1989 era inaugurado solenemente o Polígono
de Tiro da AMAN pelo General Leonidas Pires Gonçalves,
então Ministro do Exército, que numa justa homenagem
ao ganhador da primeira medalha olímpica brasileira de
ouro, nomeou o polígono de “Tenente Guilherme Paraense”,
Ao
General Leônidas, que foi um antigo atirador-atleta do Fluminense
Futebol Club e idealizador do projeto da expansão da AMAN,
coube a honra de disparar o primeiro tiro no moderno estande,
velho sonho de antigos atiradores do Exército que aspiravam
um dia competir num estande de primeiro mundo no Brasil. E esse
sonho se tornou uma realidade por intermédio da visão
deste grande chefe que escolheu precisamente a Academia Militar
de Agulhas Negras como o local ideal para a aprendizagem do tiro
de instrução militar e para as competições
oficiais do Tiro Esportivo.
Na
realidade, a história do estande começou um ano
antes. Em 1988 o Estado-Maior das Forças Armadas, antigo
EMFA, por intermédio da sua Comissão Desportiva
Militar do Brasil (CDMB), cujo Secretário-Executivo era
o Coronel Aviador Walmiky Conde, durante uma Assembléia
Geral do CISM se candidatou para sediar e organizar um Campeonato
Mundial de Tiro Militar no Brasil em 1989. Para a felicidade do
Tiro, nessa ocasião, o Exército Brasileiro estava
com um projeto de ampliação da AMAN em andamento
e o Ministro Leônidas, sensível ao problema e por
ser um apaixonado pelo esporte, aproveitou o ensejo para a construção
de um estande para esse fim.
2.
CONSTRUÇÃO DO POLÍGONO
Assim, nas obras de ampliação da Academia em 1988,
o Ministro Leônidas determinou ao Departamento de Engenharia
do Exército (DEC), chefiado pelo General-de-Exército
Athos Cezar Baptista Teixeira, que desse início aos estudos
para a construção de um estande completo que atendesse
simultaneamente as necessidades da instrução militar
dos cadetes e que pudesse sediar competições a nível
internacional, tendo para tal, a necessidade da instalação
de sofisticados equipamentos eletrônicos.
E
assim foi feito. A Comissão Especial de Obras (CEO/1),
encarregada das obras em Resende, começou a trabalhar no
projeto de ampliação da Academia, sendo que o engenheiro
da obra era o Coronel QEM Cláudio Meirelles, também
arquiteto e antigo atirador de fuzil do Exército, e que
havia participado do Campeonato Pan-Americano Militar no Panamá
em 1968. Posteriormente, foi contratado o Coronel de Engenharia
José Tarouco Correa, responsável pela construção
de inúmeros estandes nas Guarnições Militares
onde foram realizadas as competições de tiro das
Olimpíadas do Exército e os Campeonatos de Tiro
do Exército, na década de 70. O Coronel Tarouco
também possuía uma grande vivência em eventos
internacionais, tendo competido como atirador e atuado como técnico
da equipe militar brasileira no Panamá.
Por
determinação do General Athos, foram enviados à
Suíça em 1988 para a aquisição de
equipamentos eletrônicos o General-de-Brigada Antônio
Porto Real, Diretor da DOM, o Coronel de Artilharia Eduardo Fernandes
Ferreira, Assistente do Chefe do DEC, atirador com experiência
internacional, tendo participado em várias oportunidades
como integrante da equipe das Forças Armadas e pela equipe
brasileira da Confederação, além do Sr. Carlos
Eduardo Motta, representante da Jabour.
Na
Suíça, a comitiva visitou vários estandes
de fuzil onde estavam instalados equipamentos eletrônicos
da SIUS-ASCOR e da POLYTRONIC, observando e verificando os seus
funcionamentos. As duas fábricas também foram visitadas,
sendo, então, comparados custos, rusticidade e desempenhos
dos equipamentos. Convém lembrar que na época ainda
não haviam sido construídos equipamentos eletrônicos
para o tiro calibre 22 e de ar comprimido.
Após
a escolha dos equipamentos a serem adquiridos, recaiu a preferência
nos produtos da POLYTRONIC, que além de oferecer vantagens
no preço sobre a concorrente, possibilitou condições
para a instalação do tiro de fuzil a 200 metros,
sem maiores custos; forneceu, ainda, dois alvos eletrônicos
de reserva. É interessante lembrar que cada conjunto de
alvos custava US $15.000 e como foram adquiridos 40 alvos, número
mínimo necessário de alvos para a realização
de campeonatos internacionais do CISM, o valor total com cabeamentos
foi de US $ 660.000. Este valor acrescido ao valor dos equipamentos
elétricos dos alvos de tiro rápido (silhuetas) US
$ 23.717,547 e material e equipamento NCz $200.000,00, perfazendo
um total aproximado de US $ 800.000.
A
operação seguinte foi trazer esses equipamentos
para o Brasil. Para trazer alvos, cabeamentos, materiais e equipamentos
eletrônicos para Resende, teve que ser montada uma verdadeira
operação de guerra, com o Gabinete do Exército
se empenhando diretamente no planejamento e no acompanhamento
das ações subseqüentes, tendo que se recorrer
à Força Aérea para trazer toneladas de equipamentos
distribuídos e montados em “pallets”. Foram
necessários vários vôos de Hércules
para trazer toda a carga. Contou ainda com o apoio dos Adidos
Militares da França, da Inglaterra e Portugal para o desembaraço
e providências alfandegárias necessárias,
desde a saída do material da Suíça até
a chegada ao Brasil.
Convém
ressaltar que paralelamente à construção
do polígono foi criada uma Seção de Tiro
na AMAN, que funcionou desde o início no polígono
em construção, recebendo os equipamentos eletrônicos,
estudando os manuais e acompanhando a montagem dos alvos pelos
técnicos suíços e posteriormente operacionalizando
o estande. Foi muito importante a participação do
Major Oliva designado como o primeiro chefe da Seção
de Tiro da AMAN, na coordenação dos trabalhos de
implantação da seção.
Para aqueles que não têm um maior conhecimento sobre
a Seção de Tiro da AMAN, os oficiais que integram
a Seção são selecionados por seus méritos
profissionais e devem preencher vários requisitos. Devem
ser ex-integrantes de equipes de tiro da AMAN e/ou do Exército,
possuir Curso de Educação Física, excelente
perfil profissional e destacados alunos na AMAN. Essa prática
persiste até os dias atuais e é um motivo de sucesso
e eficiência da Seção.
O
polígono finalmente ficou pronto, com instalações
físicas compatíveis ao efetivo do corpo de alunos,
podendo receber simultaneamente em seus diferentes estandes para
a instrução militar quase 1000 cadetes.
3.
UTILIZAÇÃO DO POLÍGONO TENENTE GUILHERME
PARAENSE
Desde 1989, o polígono vem sediando anualmente as competições
da NAVAMAER, entre as três Escolas de Formação,
e dos Campeonatos da FORÇAS ARMADAS, promovidos pela Comissão
Desportiva Militar do Brasil. Sediou também Campeonato
Mundial de Pentatlo Militar do Conselho Internacional de Esporte
Militar (CISM). A par disso, estabeleceu uma parceria com a Confederação
Brasileira de Tiro Esportivo (CBTE), possibilitando que vários
campeonatos e torneios nacionais fossem organizados nas suas linhas.
A Copa Tenente Guilherme Paraense, na sua 19º edição,
é um exemplo dessa parceria e se constitui no maior evento
nacional do Tiro Esportivo.
A
equipe integrante da Seção de Tiro vem se desdobrando
com suas funções de instrutor de tiro, sobrecarregados
com uma carga horária bastante pesada, onde são
obrigados a ministrar instruções noturnas de tiro
para os cadetes. Paralelamente, buscam aprimorar àqueles
cadetes com habilidade para o tiro de competição,
formando novos atiradores que mais tarde irão substituí-los
nas equipes de tiro do Exército ou nas funções
de instrutor da Seção de Tiro.
Hoje
a Seção de Tiro, herdeira da antiga equipe de tiro
do Exército, que se destacou nos Campeonatos de Tiro Militar
no Panamá, na década de 70 e que fez evoluir o Tiro
Militar, além de manter um alto padrão técnico
do tiro, tem plenas condições de formar excelentes
atiradores “snipers”, e inclusive, se destacou nesse
curso nos Estados Unidos”, há poucos meses.
Sempre é bom lembrar que no ano passado, o “Polígono
Tenente Guilherme Paraense” foi palco uma magnífica
Copa Mundial de Resende, sendo considerada um verdadeiro sucesso
pelos dirigentes da ISSF, não somente pela qualidade dos
atiradores presentes, mas também pela quantidade de participantes.
A Copa transcorreu normalmente apesar das dificuldades inerentes
a um evento de tal magnitude. Tanto o General-de-Brigada Marcos,
Comandante da AMAN, que acompanhou e apoiou todo o desenrolar
do evento, como o trabalho de direção eficiente
do “chairman” Tenente Coronel Fernando Cardoso, devidamente
apoiado de perto pelo Chefe da Seção Tenente Coronel
Ricardo Mason e seus auxiliares foram alvos de várias homenagens
pelos dirigentes da ISSF.
O
Polígono “Tenente Guilherme Paraense” e a Seção
de Tiro da AMAN continuam orgulhosamente cumprindo a sua missão
para a qual foram criadas, servindo ao Exército Brasileiro,
por intermédio do ensino da instrução do
tiro militar, formando a cada ano cadetes mais bem preparados
nesta modalidade e também se constituindo no “celeiro”
permanente de atiradores que se destacam nas competições
nacionais e internacionais.
4.
ESTANDE DO CNTE
Ao encerrar cabe uma pergunta:
Mesmo considerando a grande importância da construção
do Estande do CNTE que sediou os Jogos Pan-Americanos do Rio de
Janeiro e o que irá representar para a evolução
do Tiro Esportivo Nacional, sediando futuros eventos internacionais,
cabem aqui algumas considerações: o novo estande
sem uma infra-estrutura adequada, ou seja, sem uma Seção
de Tiro, sem pessoas com experiência e conhecimentos da
organização do Tiro Esportivo, certamente terá
muitas dificuldades para funcionar até nas competições
mais simples.
Outra
consideração de natureza histórica: por que
deram o nome ao estande da CNTE de Tenente Guilherme Paraense,
quando já existe outro, com o mesmo nome há 18 anos,
tendo sido reconhecido nacional e internacionalmente, quando da
realização do Campeonato do CISM de Pentatlo Militar
e da World Cup Resende?
Por
que não dar o nome ao estande, prestando também
uma legítima homenagem ao Ministro do STF Dr. Afrânio
Antônio da Costa – que foi o primeiro medalhista olímpico
brasileiro (prata e bronze), Chefe da Delegação
Brasileira em Antuérpia, Fundador da Confederação
Brasileira de Tiro ao Alvo, representante do Comitê Olímpico
Brasileiro nos Jogos Olímpicos de Los Angeles e vencedor
dos Jogos Atléticos Sul-americanos de 1922?
A duplicidade do nome do Tenente Guilherme Paraense para os dois
estandes não amplia a homenagem ao grande campeão
Tenente Paraense, porém perde-se uma boa oportunidade de
homenagear àquele que foi o maior representante do Tiro
Esportivo Brasileiro em todos os tempos, como atirador e principalmente
como dirigente -Ministro Afrânio Antonio da Costa.
por Eduardo Ferreira
Recordista e campeão brasileiro de armas longas da CBTE
e das Forças Armadas. Ex vice-presidente da CBTE e da federação
do DF, ex presidente das federações do RJ e CE,
e diretor das federações da PB e RS. Autor de "Arma
Longa" e "História do Tiro"
ferreiraedu@terra.com.br