Eduardo Ferreira
(ferreiraedu@terra.com.br)

PROVAS DE CARABINA NAS DÉCADAS DE 60 E 70

1. As dificuldades da época
Quem desejasse iniciar a prática do Tiro Esportivo no final das décadas de 60 e 70 no Brasil e escolhesse um das modalidades de armas longas, com certeza iria ter que vencer muitos obstáculos e treinar bastante para desenvolver uma técnica consistente e alcançar uma posição de destaque no esporte. Os problemas eram vários e complexos! Inicialmente não existiam as categorias de damas e juniores que existem hoje. Somente havia uma categoria de adulto (sênior) e o atirador era obrigado a competir lado a lado com os grandes nomes da época e que haviam brilhado nas principais competições internacionais do passado.

Nomes famosos como Harvey Dias Villela, Antônio Martins Guimarães e Armando Braga, Alberto Pereira Braga, Flávio Barbosa do Nascimento, Adhaury da Costa e Rocha no Rio de Janeiro; João Sobocinski, Luiz Artigas Martins, Alan Sobocinski, Severino Moreira, Mário Soubhia em São Paulo e Edmar Vianna de Salles em Minas Gerais, eram os grandes campeões da época a serem superados.

Convém ressaltar que a grande maioria desses atiradores tinha boa vontade e paciência quando solicitados a repassar alguns fundamentos técnicos e experiências para os iniciantes. No entanto, eram posições e fundamentos técnicos antigos e considerados ultrapassados. Somente no início de 70 o primeiro técnico de arma longa apareceu no Brasil - o romeno Peter Cemegeau - trazido pelo Presidente da CBTA Dr. Guimarães. A partir daí, o tiro de armas longas teve um pequeno desenvolvimento e embora o técnico Cemegeau tivesse muito boa vontade, ainda empregava os fundamentos de uma técnica utilizada pelos atiradores russos e do bloco oriental, técnica essa inadequada para os atiradores brasileiros que não tinham uma compleição física semelhante aos europeus e apenas competiam nos fins de semana.

Com a vinda do técnico norte-americano William Krilling ao Brasil, no final dessa década, ocorreu um salto de qualidade nos treinamentos e nas provas de armas longas. Os nossos atiradores tiveram uma nova motivação, utilizando uma técnica moderna e eficiente e logo os resultados começaram a aparecer.

Outro grande obstáculo que existia na época era a carência de munição de qualidade, pois, praticamente não havia importação de munição e o atirador era obrigado a competir com a “imprevisível” CBC cal.22, de cartucho branco, que não raro explodia na cara do atirador e mais um zero se juntava à sua coleção.

No Fluminense, o Diretor de Tiro Dr. Guimarães somente repassava com sobriedade, em pequena quantidade, as munições 22 importadas (X PERT e Match III) para os Campeonatos Brasileiros e, mesmo assim, apenas para as provas de tiro deitado e com muito boa vontade para o tiro de joelhos.

Não precisava ser um grande “expert” no esporte para adivinhar a dificuldade e a longa demora do carabineiro em evoluir no tiro de arma longa. A possibilidade de importação de munição, arma e equipamentos somente foi possível na gestão do Presidente Coronel Sá Campello. Por intermédio dessa medida, o Tiro Esportivo pode crescer e as medalhas e títulos não demoraram a aparecer. Os velhos e sofríveis casacos de lona deram lugar aos casacos de couro bem mais eficientes e seguros.


2. O surgimento de novos carabineiros
Para aqueles que chegassem com vontade de atirar no Fluminense naquela época, existiam armas antigas e pesadíssimas à disposição como as velhas carabina Martinis, Hammerli, Valmet e Shutz Larsen, com gatilho “cabelo”, guardadas nos armários do clube. Algumas são mostradas nas fotos abaixo. O carabineiro precisava ter uma boa compleição física e força para sustentar uma carabina que pesava quase 10 kg.

Mesmo assim, novos carabineiros surgiram nessa época no Rio de Janeiro, como Waldir Ferreira, Eduardo Ferreira, Marco Antônio, Luiz Fernando Alonso, Carlos Eduardo Lima, Dílson Reis e Angelamaria. Em São Paulo o Tiro de arma longa progrediu mais rápido e surgiu uma safra de grandes carabineiros como Milton Sobocinski, Waldemar Capucci, Aluízio Motta, Roberto Vitto, Roberto Giorgi e Durval Guimarães, que acabou se tornando no melhor carabineiro que o Brasil já teve, conquistando inúmeros campeonatos brasileiros e uma medalha de prata na prova individual de carabina deitado nos Jogos Pan-Americanos do México em 1975.

A quarta grande dificuldade era a falta de um calendário mais amplo contendo mais competições para os carabineiros que tinham que se contentar com praticamente quatro provas por ano: campeonato brasileiro, campeonato estadual, campeonato do clube e uma rara prova internacional. Esse era o quadro do Tiro de armas longas da época em que comecei a competir

3. Os principais atiradores de armas longas e suas antigas carabinas


1930: Campeões tricolores de armas curtas e longas no antigo estande do Fluminense
Em cima: Coronel Antônio Ferraz, Afrânio Costa, Manoel da Costa Braga, Harvey Villela.
Em baixo: Antônio Guimarães, Armando Braga e Ernani Neves com suas antigas carabinas suíças Martini e Hammerli.
OBS: Algumas dessas armas antigas foram emprestadas aos atiradores iniciantes nas décadas de 50 e 60 no Fluminense.

 


1936 – Harvey Villela – Afrânio Costa e José Salvador com suas carabinas
Salvador foi o construtor do atual Estande do Fluminense em 1934.

 


Carabina 22 Shultz

 


Carabina Hammerly com furo na coronha - Cal 22 – Suíça

 


Carabina cal 22 Hammerly sem furo na coronha - Suíça



por Eduardo Ferreira
Recordista e campeão brasileiro de armas longas da CBTE e das Forças Armadas. Ex vice-presidente da CBTE e da federação do DF, ex presidente das federações do RJ e CE, e diretor das federações da PB e RS. Autor de "Arma Longa" e "História do Tiro"
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